Estudo de Harmonia #2

Estudo de Harmonia #210 minutos de leitura

No Estudo de Harmonia #1, eu escrevi sobre a inversão de acordes. Como foi o primeiro texto desse tipo, procurei deixá-lo o mais simples possível. Naquele post eu tratei apenas da inversão de um acorde, numa sequência de quatro acordes. Para quem não conhecia muito bem esse assunto, fiz posteriormente um texto sobre Formação de Acordes. Porém, quem já tem algum conhecimento pode ter achado os dois textos muito básicos. Por isso eu estou dando continuidade à série, e neste Estudo de Harmonia #2, eu vou tratar, além das inversões, substituições e também o uso de outras escalas dentro de uma só tonalidade. Por enquanto ainda não vou entrar em modulação, mas o presente texto já serve como preparação.

Elementos deste estudo de harmonia

  • Tonalidade: Fá maior
  • Acordes: F7M, Gm7, Am7, C7
  • Graus da escala: I, ii, iii, V
  • Notas de F7M: F, A, C, E
  • Notas de Gm7: G, Bb, D, F
  • Notas de Am7: A, C, E, G
  • Notas de C7: C, E, G, Bb
  • Substituição dos acordes Xm7 por Xm7(11)
  • Substituição do V por diversos acordes

Notas da Tonalidade de Fá maior

F, G, A, Bb, C, D, E, F

Funções harmônicas dos graus da escala

  • I = Tônica
  • ii = Subdominante
  • iii = Mediante / Relativa
  • V = Dominante

Substituições dos acordes

Explicações prévias

A primeira coisa a se considerar é sobre quantas notas têm em cada acorde. No primeiro estudo eu utilizei apenas tríades, mas aqui eu estou utilizando apenas tétrades. Além disso, é preciso considerar a disposição das notas dentro do acorde, e não somente quantas notas formam ele. O que eu quero dizer é que uma tríade é um acorde que contém três notas, enquanto uma tétrade é um acorde que contém quatro notas. Entretanto, independente de ser uma tríade ou uma tétrade, no fim das contas o acorde pode ter 6 notas. É o caso de um Mi menor feito no violão e tendo todas as cordas tocadas. Dessa forma a nota mi se repete em três oitavas diferentes, o Si em duas e o sol só aparece uma vez.

Assim como no outro estudo, eu utilizarei acordes que possuem quatro notas ao todo. Quando se usam tríades, é possível repetir qualquer nota do acorde, mas com tétrades, nesse caso, não dá. Em síntese, a possibilidade de dobrar alguma das notas torna as resoluções mais óbvias e fáceis, geralmente.

Mas como aqui não será possível dobrar nenhuma nota, isso dificulta na hora de achar uma disposição que acomode bem todos os acordes. Por exemplo, fazer C7 e depois F é próximo (no violão). Em contrapartida, fazer um C7(13m) na oitava casa e depois um F7M na primeira casa fica distante. Portanto, para se fazer esse tipo de coisa, mudar a disposição do acorde ajuda, e muito.

Regra básica

Na hora de se suprimir uma nota dentro do acorde, a primeira nota a ser suprimida deve ser a 5J.

Substituição do F7M

O acorde de F7M será substituído por F7M(9). Como foi explicado anteriormente, a primeira nota a ser substituída em um acorde deve ser a 5J. Os acordes aqui terão quatro notas ao total, por isso o C(5J) irá cair fora. Com isso sobram as notas F, A, E. Além dessas três notas, entra o G(9M). Portanto, temos depois dessa mudança, as notas F, A, E, G. Dentro dessa sequência eu coloquei o G no fim, e não entre o F e o A, porque ele é a nona, e não a segunda.

Substituição do Xm7

Os acordes do ii e iii graus, Gm7 e Am7 respectivamente, serão substituídos por Gm7(11) e Am7(11). Similarmente ao exemplo anterior, a nota suprimida aqui é a 5J. Afinal, suprimir a quinta é o básico. Um detalhe interessante aqui nesta substituição, é que os acordes originais são tercianos, enquanto que os substitutos são quartais. Você pode ler um pouco mais sobre isso no post sobre formação de acordes. A nota que era a quinta do acorde desce um tom e passa a ser a 4J composta (11J).

Substituição do C7

O acorde de C7 será substituído pelos seguintes acordes:

  • C7(9)
  • C7/9/4
  • C7(9m)
  • C7(13m)
  • Gb7(#11)
  • Gb7(13m)

Na dominante existem mais variações, pois neste acorde exclusivamente, será usada a escala de tons inteiros, além da de Fá maior.

Considerações finais sobre as substituições

Apesar de todas as substituições citadas, não haverá mudança de função harmônica. Mesmo quando for utilizada a escala de tons inteiros, ela será utilizada dentro de um contexto tonal, cumprindo o papel de dominante.

Inversão de acordes no Estudo de Harmonia #2

Acorde de dominante com baixo na subdominante

Primeiramente vamos começar com uma inversão no acorde de dominante. A sequência original é F7M, Gm7, Am7, C7. Fazendo a terceira inversão neste acorde, nós teremos o acorde de C/Bb. Também é possível escrever, ou dizer C7/Bb, mas isso seria uma redundância, portanto deve ser evitada.

Um detalhe no que tange à melodia do baixo, é que antes o baixo fazia F, G, A, C, enquanto agora faz F, G, A, Bb, que são as quatro primeiras notas da escala, respectivamente. Isso dá individualidade à voz do baixo, destaca ela.

Baixo pedal

Posteriormente vamos usar a nota G como baixo pedal. Note que no Gm7, Am7 e C7 nós temos a nota G. É possível utilizar o G no baixo desses três acordes. No Gm7 ele fica no estado fundamental, no Am7, na terceira inversão e no C7, na segunda inversão. Para evitar a redundância descrita anteriormente, o Am7/G deve ser escrito Am/G. Assim teremos F7M, Gm7, Am/G, C7/G.

Essa segunda opção tem um efeito contrário à primeira opção, pois lá a voz do baixo adquiria mais individualidade e ficava destacada. Aqui a voz do baixo não tem um caráter tão expressivo. Contudo, isso pode significar um colorido interessante, no final das contas.

Último exemplo de inversão

Existem diversas outras inversões possíveis, mas é bom evitar a inversão do F7M, pelo menos no início e no final da música. Se o primeiro grau for invertido, especialmente a primeira e última vez em que ele aparece, isso pode descaracterizar a tonalidade. A não ser que seja esse o objetivo, é melhor evitar essa inversão. Por isso não vou tratar da inversão deste acorde.

Como último exemplo, usarei o Gm7 na primeira inversão e o C7 também na primeira inversão. Este exemplo dá um colorido especialmente interessante ao baixo, na minha concepção. Falo isso porque temos um equilíbrio entre dois acordes na fundamental e dois na mesma inversão, e ainda uma melodia que faz sempre movimento contrário. Além disso, a nota do baixo, no acorde que prepara a Tônica, é a sensível da escala.

Estudo de Harmonia #2 – parte final: Dominante

C7(9)

Para encerrar o nosso estudo, vou falar sobre as substituições do C7. A primeira que aparece é o C7(9), e não exige maiores explicações. É só seguir o que já foi dito sobre colocar a nona no lugar da quinta. Um detalhe interesante que dá para acrescentar é que, quando fazemos este acorde, temos as notas C, E, Bb, D. Se trocarmos a Tônica pela quinta, teremos G, Bb, D, E, que forma o acorde de Gm6. Nisso podemos perceber que o acorde iim6 serve de dominante.

C7/9/4 e C7(9m)

Vou citar esses dois acordes no mesmo exemplo porque eles servem bem como complemento um do outro, onde a nona maior e a quarta justa soam como suspensões. As notas que formam o C7/9/4 são C, F, Bb, D, e as notas que formam o C7(9m) são C, E, Bb, Db. O que acontece aí é que o F resolve no E e o D resolve no Db. O C7(9m) pertence à escala de Fm, que é a escala de mesma Tônica e modo diferente de F. Por isso esse acorde é o que se chama de empréstimo modal.

C7(13m)

Aqui também é o caso de um empréstimo modal, pois a 13m de C (Ab) é a 3m de F. Mas existem dois pontos importantes a mais. Para ilustrar esse encadeamento é que eu falei sobre o F7M(9), pois aqui o Ab resolve no G. Ou seja, a 13m de C resolve na 9M de F. O outro ponto é que este acorde permite o uso da escala de tons inteiros.

Gb7(b5) e Gb7(13m)

Esses dois acordes são construídos em cima da escala de tons inteiros que contém o trítono E – Bb, por isso podem ser usados como dominante em Fá maior. Para improvisar, ou criar uma melodia, o ideal é utilizar a escala de tons inteiros. Mas você pode utilizar a escala de Fá menor melódica ascendente, desde que tenha o cuidado de evitar as nota F e G, ou as toque rapidamente. Se você prestar atenção, a escala de tons inteiros e a menor melódica são parecidas. Veja:

  • Escala de tons inteiros: Gb, Ab, Bb, C, D, E
  • Escala de Fá menor melódica (ascendente): F, G, Ab, Bb, C, D, E

A única diferença é que, na de tons inteiros temos o Gb, e na de Fá menor melódica temos o F e o G, no lugar do Gb.

Exercício de composição sobre este estudo de harmonia

Eis uma composição feita em cima do que foi passado no post. É mais um exercício de composição, do que uma composição, propriamente dita. Ela é para quinteto de cordas, e eu utilizo as progressões aqui explicadas. Eu não utilizei todos os acordes deste estudo. Especificamente os acordes C7(9) e Gb7(13m) não foram usados. A peça é construída no padrão de Tema e Variação, onde eu utilizo apenas uma parte, e não partes A e B, por exemplo. Logo abaixo você pode conferir o áudio e a partitura.


Áudio

Composição para quinteto de cordas sobre o Estudo de Harmonia #2

Baixar o áudio


Partitura

Se você quiser ver ou baixar a partitura, clique aqui.

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