É difícil querer ir contra a lógica. Falar em coisas como intuição é querer pregar que algo irracional tem sentido. É bem verdade que abandonar a lógica e a razão parece totalmente insensato. Porém se alguém percebe que existem coisas que transcendem a lógica e a razão, a realidade passa a ter matizes nunca antes vistas. O transcendentalismo pode ser uma forma não dogmática e não religiosa de se explicar através do intelecto o que está além do óbvio.
Vê que a vida é uma grande ponte. Não constrói nela tua casa, atravessa somente…
Provérbio Budista
Parto do princípio que a vida tem início, meio e fim. O meu ponto de partida é a efemeridade de nossa pequena existência. Considerando que tudo o que conhecemos é tão pouco, tão pequeno perto da imensidão do Universo, me parece no mínimo aceitável a ideia de que existe algo além dessa nossa vidinha.
E não são poucos aqueles que escreveram sobre isso. Henry David Thoreau, por exemplo, é considerado um transcendentalista, propriamente dito. Mas a “doutrina” que recebe esse nome tem suas origens em Kant. Thoreau, Kant e muitos outros falaram em transcendência. Mas o termo transcender, devido ao seu caráter subjetivo, é algo com significados distintos para cada um de nós.
O termo transcendentalismo aqui, para mim, é geral. Não estou me referindo à doutrina específica que leva este nome, da qual Thoreau faz parte. Nem estou me referindo ao transcendentalismo kantiano. O que eu estou tentando fazer aqui, entretanto, é pegar o conceito de transcendência e trabalhar em cima.
Há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar
O que Shakespeare tem a ver com transcendentalismo?
O cético questiona tudo, duvida de tudo, não acredita em nada. Eu sou tão cético que questiono o ceticismo, duvido do ceticismo, não acredito no ceticismo. Se me dizem que existe um além, um céu, um inferno; eu questiono: será que existe mesmo? Da mesma forma, se me dizem que não existe nada disso, eu questiono: será mesmo que não existe? Me parece uma atitude racional e lógica.
De tanto me questionar se é verdade ou mentira tudo que ouvi a respeito de coisas intangíveis e incomprováveis, eu cheguei à conclusão de que é muito mais provável que existam coisas que nós humanos, na nossa insignificância extrema, não consigamos sequer perceber, quanto mais explicar.
Na minha opinião, achar que só existe aquilo que comprovamos através de nossos métodos falhos é uma arrogância megalomaníaca. Mas não só isso: é uma ilusão imensa também.
A princípio, alguém pode se contentar em não acreditar nalgo não comprovado pela ciência. Até aí nada demais. Porém existe uma diferença bem clara entre dizer que não acredita em algo por motivo A, B, ou C; e dizer que algo é mentira por causa de A, B, ou C.
Na minha concepção, cito isso somente a título de exemplo, Céu e Inferno são apenas metáforas. Contudo, eu estou aqui, na Terra, e não posso afirmar que existe céu e inferno, e nem afirmar que não existe. Eu apenas acho. Eu não posso querer afirmar que sim ou que não, se não tenho como mensurar para poder comprovar.
Feita essa crítica ao ceticismo dogmático da ciência, volto ao ponto. É um parênteses chato, mas necessário, fazer essa crítica.
Voltando ao assunto
Pelo que vejo, existe esse mundo das sensações, onde envelhecemos; e existem mundos ou realidades acima e abaixo desta. Isso me parece bastante óbvio. Preste atenção na citação a seguir e pense a respeito.
Uma infinidade de seres inferiores ao ser humano prova uma infinidade de seres superiores a ele.
John Locke
Do mesmo modo como Locke fala em seres, podemos pensar em mundos. Podemos usar o termo realidade, também, para ajudar na compreensão. Ainda assim, as coisas ficam meio nebulosas, pouco claras, metafóricas demais.
Primeiramente, devemos considerar que o microcosmo é semelhante ao macrocosmo. Enquanto em um átomo temos elétrons que giram em torno de um núcleo, no sistema solar temos vários planetas que giram em torno do Sol. Isso me remete ao pensamento de que, enquanto existem realidades inferiores, existem as superiores. Da mesma forma, existem pessoas que só pensam em termos instintivos, de sobrevivência e procriação; enquanto outras, mais elevadas, têm uma rica vida intelectual e emocional.
