Existem três concepções diferentes, mas consideravelmente semelhantes, quando se trata de falar que a vida não é simplesmente nascer, crescer e morrer. Geralmente quando se fala nisso, se usa a descrição sentido da vida, mas também é comum se utilizar a terminologia significado da vida. Ambos são muito parecidos, mas merecem uma distinção mais precisa. Além desses dois, também costuma-se falar em objetivo da vida, às vezes só para complementar os dois principais, mas não só.
Me proponho aqui a falar sobre o objetivo da vida, mais do que sobre os outros dois.
Sentido, significado e/ou objetivo da vida remetem todos à essência da vida, mas de modo ligeiramente diferente entre si. Enquanto sentido da vida remete a um caminho, a um “para onde a vida a vida vai”, ou “para onde a vida deve ir”; significado da vida remete a porquês. O significado de algo é a resposta que responde o porquê desse algo ser do jeito que é. O objetivo da vida é o “porquê vivemos”, mas diferentemente do significado, o objetivo diz respeito a um propósito, ao que precisamos fazer para atingirmos o que podemos atingir.
Definindo objetivo da vida
No fim das contas poderia ser dito simplesmente que sentido, significado, ou objetivo da vida é viver. Parece não haver uma resposta satisfatória, muito menos uma que seja definitiva. A gente pensa e pensa de novo e passa a vida inteira tentando entender coisas assim, e muitas vezes a melhor resposta que consegue é “as coisas são assim mesmo”, “o negócio é viver numa boa e não prejudicar ninguém, já é suficiente”.
Todas essas coisas que se costumam dizer, sobre a inutilidade em se querer saber o sentido da vida, giram em torno da crença atual de que controlamos nosso destino. Veja como sentido e destino são palavras próximas. Ambas indicam um rumo, um “lugar” para onde se está indo. Eis apenas mais uma das infelizes incongruências desse mundo vazio em que vivemos: ao mesmo tempo em que somos condicionados para acreditar que “criamos nosso destino”, somos desestimulados a refletir sobre o sentido da vida.
Como o destino entra nessa história
Em um mundo onde majoritariamente se acredita que “somos o que fazemos de nós mesmos”, “tudo depende de mim, dos meus esforços”, e coisas assim, que lotam a internet de coachs repetindo essas frases motivacionais, como mantras de uma seita maluca de fanáticos, o simples fato de questionar esses valores já é tido como besteira. Sem querer perder o fio da meada, o objetivo de dar esses exemplos, típicos do mundo atual, é enfatizar que não é possível fazer uma investigação filosófica séria sobre sentido, significado, ou objetivo da vida, deixando a discussão determinismo versus livre-arbítrio de fora.
Se não existe questionamento quanto a essa liberdade infinita que é pregada hoje, refletir sobre o significado da vida não tem sentido. É por isso que frequentemente as respostas são rasas, como as já citadas “as coisas são assim mesmo”, “curta a vida porque a vida é curta”, etc…
Se está determinado que tudo é apenas consequência das minhas escolhas e do meu esforço, então a vida se resume a plantar e colher, e fim de papo. É tudo simples! E é tão bonito… mas é ilusão. Entre o plantar e o colher existem, literalmente, diversas coisas que independem completamente das minhas escolhas e dos meus esforços. Uma boa colheita depende das condições ideais, que incluem chuva, sol, temperatura, umidade, pragas, e outras variáveis. É tolice, para dizer o mínimo, acreditar que basta eu escolher um caminho e me esforçar e tudo será do jeito que eu quero que seja.
O que há, além de se lutar pelo que se quer
Já que a vida não se resume à liberdade de escolha, o sentido da vida não pode ser definido apenas em termos de “eu quero ser feliz, porque ser feliz é a melhor coisa que existe”. Porém, para se chegar numa resposta satisfatória, é preciso se fazer uma pergunta sincera: existe um significado (ou um propósito, ou um sentido, ou um objetivo) para a vida? Ou somos apenas seres insignificantes, vivendo vidas insignificantes?
Nem a resposta que diz que o sentido da vida é “ser o que eu quero ser, porque eu escolho tudo” e nem a que diz que “somos insignificantes” me contentam. Me parece improvável que qualquer um desses extremos seja verdade. Além disso, viver sem nunca se perguntar qual é o sentido da vida é algo que não acredito que alguém faça. Em algum momento, cedo ou tarde, conseguindo uma boa resposta ou não, todo mundo se pergunta isso.
Não há quem viva uma vida perfeita, por mais que tanta gente se esforce tudo que possa para aparentar isso. Então se alguém me diz: “eu não fico me perguntando o sentido da vida, eu só vivo”, simplesmente eu não acredito. Quem é que leva uma vida de propaganda de margarina? 24/7 sorrindo, dando pulos de alegria, e nem se despenteia? Uma hora a vida enfia o dedo na ferida e a pessoa se pergunta “porquê?”. Poliana só existe em conto de fadas. Ninguém se alegra com a desgraça.
O sofrimento como fato inevitável
O ser humano é uma criatura peculiar… Todo mundo sabe que vai morrer, mas isso não impede ninguém de ter medo da morte. Ninguém quer morrer, mas ninguém quer envelhecer também. E por fim, todo mundo quer ser feliz, mas não há ninguém que passe pela vida sem sofrer. Se vamos falar em destino, devo começar dizendo que estamos destinados a querer o que não podemos ter.
Mesmo que eu tente ser feliz sempre não conseguirei. Se a dor e sofrimento são inevitáveis, saber lidar com os reveses da vida não deixa de ser parte da felicidade. O objetivo da vida, na falta de coisa melhor, pode ser a felicidade, então. E já que é impossível ser feliz sempre, o objetivo da vida pode ser também o de se aprender a lidar com o sofrimento. Se eu conseguir, hoje, aturar as dificuldades, mais do que ontem, estou numa crescente rumo à felicidade. Se eu não conseguir, preciso encontrar um objetivo para a vida que seja mais concreto. Ou talvez não, talvez eu só precise seguir caminhando o meu caminho e vejo depois no que isso vai dar.
Acho que só descobrirei se estou certo no futuro, quando olhar para trás. Só então poderei medir se o sofrimento é mesmo inevitável, por exemplo. Somente depois de ter vivido é que se pode formar um juízo sobre o que é viver. Durante o processo a gente procura um objetivo às cegas.