Músico de rua tocando violão.

Música não é trabalho3 minutos de leitura

A depreciação dos músicos e musicistas, enquanto profissionais, é mais comum do que se imagina. E isso não se trata apenas das inúmeras vezes que eu e tantos outros já ouviram da boca das pessoas que “Música não é trabalho”. Essa depreciação inclui ainda o conceito de que trabalho é sinônimo de sofrimento.

O que é trabalho, então?

Funciona assim: durante séculos se cultuou a ideia de que trabalho é cansativo, é obrigação, de que “se eu pudesse, ficava o dia inteiro sem fazer nada”, que quanto mais pobre é a pessoa, mais ela tem que trabalhar e menos ela ganha. Portanto “não ter nada para fazer” sempre foi prazeroso. O ócio é um privilégio, é para quem pode, não é pra quem quer.

Sabe o que é mais estranho nisso? é que é verdade, ou melhor dizendo: é assim que as coisas são, mas não é assim que elas deveriam ser. Mas isso está tão arraigado na cultura e na maneira de ser das pessoas, que dificilmente se percebe que o “trabalho” vilão foi criado para escravizar e controlar o quanto as pessoas têm permissão para se divertir.

A questão não é, portanto, que o trabalho é desagradável, a questão é que o conceito de trabalho é oposto ao de diversão. Ou você está trabalhando, ou está se divertindo, mas os dois juntos não pode. O próprio ambiente de trabalho é irreal, falso, infeliz, com pessoas se sentindo desconfortáveis durante toda a jornada de trabalho, e ansiosas para irem embora. Isso te parece familiar?

O entretenimento das massas

Já que o povo tem que trabalhar e ficar doente, de tanta tristeza, em ver sua vida indo ralo abaixo, naquela atividade que nada lhe traz de bom, além da própria sobrevivência, quase indigna; então dá-se um jeito de entreter o povo com novela, missa e gibi, com direito a uma boa dose de álcool para esquecer que é escravo.

Música não é trabalho

E o músico serve maravilhosamente bem a este propósito, fazendo barulho enquanto o povo se rodopia ao som dos bandolins, num puro êxtase, num dia frio, um bom lugar pra ler um livro, e ela só quer dançar, dançar, dançar, se rodopiando ao som dos bandolins…

Mas Música não é Trabalho.

Diversão é solução, sim!

Da mesma forma que a sociedade precisa do escravo para alimentar o ego e a pompa dos que escravizam, precisa também de uma dose moderada de esquecimento dessa “realidade” que ninguém quer que seja real. Então não adianta só encher o bucho do povo de pão, tem que dar circo também. E depois reclamar que o povo não presta.

A música entra neste esquema como uma ferramenta de função disciplinadora, que ao mesmo tempo serve para condicionar as pessoas a agirem conforme se espera que elas ajam; e também para fazê-las esquecer que estão agindo como idiotas, fazendo-as agir de forma mais idiota ainda.

Ainda bem que nem sempre dá certo, e as pessoas conseguem viver numa boa somente abstendo-se de pensar, num mundo de fantasia onde elas são o “fulano de tal que faz não sei o que e ganha não sei quanto”, personagem de importância indispensável no teatro social que se costuma chamar de vida.

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