Anteriormente fiz um post sobre um disco de rock progressivo brasileiro, agora é a vez de comentar um disco para quem ama violão e guitarra. O disco que comento neste post é um trabalho para violão e guitarra solo, que gostei bastante. Estou me referindo ao Caméléon Waltz (2018), de Antoine Boyer.
Caméléon Waltz
O disco todo é muito bem tocado, com uma técnica que não desaponta. O que me chamou atenção para o disco, entretanto, foi a versão de The Sound of Silence. A bela canção da dupla norte-americana Simon & Garfunkel já foi regravada inúmeras vezes, mas essa é para violão solo e foi rearranjada. A sonoridade da versão de Boyer ficou muito interessante, pois ele conseguiu manter a vibe da versão dos autores e acrescentou um colorido (às vezes surpreendente) à canção, sem tirar a beleza da simplicidade original.
Bem como The Sound of Silence, outras peças merecem um comentário. O disco abre com We Will Meet Again, de Bill Evans, que foi muito bem adaptada ao violão e recebeu uma interpretação sentimental. Nela Boyer enfatizou as dissonâncias e traduziu o aspecto saudoso da peça muito bem. Além disso, ele aproveitou para já mostrar sua técnica na abertura do disco, em trechos que caíram muito bem e combinaram com o clima geral da peça de Evans.
Outro ponto do disco que não posso deixar de destacar é a igualmente bem adaptada e bem tocada Norwegian Wood, dos Beatles. Nessa, Antoine usa uma semi-acústica, e explora sua técnica e criatividade em novas melodias, contrapontos e modulações que deixariam John Lennon orgulhoso.
Composições de Boyer no disco
Anteriormente eu só comentei sobre versões que ele fez sobre músicas de outros compositores. Dentre as músicas do próprio Boyer, a que mais merece destaque, a meu ver, é a faixa que dá nome ao disco. Em Caméléon Waltz, Antoine Boyer constrói a peça sobre uma sonoridade que não se limita ao tonal, remetendo a Debussy, com o uso de escala de tons inteiros já na abertura.
Versão que talvez não agrade algumas pessoas
A Sonata K. 113 de Domenico Scarlatti recebeu uma interpretação mais lenta que o usual, provavelmente devido às limitações técnicas do violão, em relação ao piano. Mesmo assim me soou muito bem, sendo mais uma adaptação bem sucedida de Boyer. Para quem já está acostumado com a versão para teclas, porém, talvez ela soe chocha. Acredito que a versão do disco Caméléon Waltz soa bem para violão, que é uma das características que percebo: músicas bem adaptadas ao violão. Mas se a sonata K 113 fosse tocada nessa velocidade no piano, tenho minhas dúvidas se soaria bem.
Encerramento e comentários finais
Para fechar com chave de ouro, Antoine fez uma versão da profunda e tocante Prayer of Gratitude, de Gurdjieff & De Hartmann. Depois de diversas sonoridades e muita técnica, o disco encerra não com uma apoteose, mas com um tom reflexivo. Me agradou bastante a mistura de sonoridade e as intensidades emocionais durante o disco inteiro, para na última música ele se despedir com um clima melancólico e lento. Por ser um disco inteiro para instrumento solo, Camélélon Waltz já tem em si a solidão e a solitude. Talvez ele combine mais com uma escuta solitária, introvertida, saboreando um vinho e pensando na vida. Toda a construção do álbum me remete a um disco conceitual de progrock, ou a uma música extensa dos compositores clássicos. Um presente para os amantes do violão e da guitarra.