Neste artigo fiz uma análise, recheada com muitos gráficos, sobre as tonalidades das sinfonias de Mozart. Quando vemos uma obra de Mozart, não é raro que nela exista a seguinte denominação: sinfonia núm. 1 em Mib, KV 16, ou Sinfonia núm. 4 em Ré, K 19. A sigla “K”, ou “KV”, seguida de um número, é uma referência ao musicólogo Ludwig Von Köchel. Então, a lista das 41 sinfonias que trago aqui é baseada no catálogo Köchel.
As controvérsias sobre a autenticidade de algumas sinfonias
Antes de mais nada, explico que sei que existem controvérsias, tanto na autenticidade de algumas dessas 41 sinfonias, quanto em outras (que Köchel não classificou neste grupo). Quanto ao grupo das 41 aqui presente, as duas mais inadequadas são a segunda e a terceira, sendo a segunda atribuída ao pai de Wolfgang (Leopold Mozart) e a terceira atribuída a Carl Friedrich Abel. Mesmo assim decidi trazer a análise dessas sinfonias, por serem as mais conhecidas e, naturalmente, as mais gravadas ao longo da história.
Ainda devemos considerar as sinfonias concertantes e afins, bem como as sinfonias propriamente ditas, devido à semelhança. Todavia, me restringi exclusivamente a trazer a análise das tonalidades das 41 sinfonias catalogadas por Köchel.
Gráfico 1
No primeiro gráfico temos as tonalidades das 41 sinfonias de Mozart. No eixo X está indicada a armadura correspondente à tonalidade da sinfonia em questão. Já no eixo Y, está indicado o número da sinfonia. A linha do meio (Escala Natural) — indicada em azul e pontilhada — é a armadura de Dó maior / Lá menor, que não possui sustenidos ou bemóis. Acima estão as armaduras sustenizadas (G, D, A, etc.), e abaixo estão as armaduras bemolizadas (F, Bb, Eb, etc.). À direita e acima, temos uma legenda onde podemos ver quando determinada tonalidade é maior ou menor.
Dois detalhes chamam atenção, inicialmente:
- Existem apenas duas, das 41, que são em tonalidade menor.
- As sinfonias se afastam muito pouco da armadura natural.
Outros detalhes são interessantes, por exemplo:
- Existe um equilíbrio no afastamento da escala de Dó maior, pois a mais afastada para cima contém 3 sustenidos (Lá maior), enquanto a mais afastada para baixo contém 3 bemóis (Mi bemol maior).
- As únicas duas sinfonias em tonalidade menor estão na mesma tonalidade (Sol menor).
Gráfico 2
No segundo gráfico, temos uma porcentagem das tonalidades de todas as sinfonias de Mozart. É interessante notar que quase 1/4 das sinfonias dele são em Ré maior.
Gráfico 3
O terceiro gráfico é praticamente igual ao segundo, apenas aponta quantos sustenidos ou bemóis têm em cada tonalidade.
Gráfico 4
Assim como o terceiro gráfico deriva do segundo, apontando a armadura de cada tonalidade, o quarto gráfico deriva do terceiro. No segundo gráfico temos as tonalidades propriamente (Dó maior, Sol menor, etc.). Enquanto isso, no terceiro temos a armadura de cada uma dessas tonalidades. Como Mozart compôs sinfonias em Si bemol maior e em Sol menor, que têm a mesma armadura (dois bemóis), fiz o quarto gráfico para demonstrar apenas a armadura, independente de ser na tonalidade maior ou menor. Na prática, eu uni as sinfonias em Si bemol maior com as sinfonias em Sol menor.
Isso talvez não faça muito sentido agora, mas, mais adiante, apresentarei as variações de tonalidade dentro das sinfonias. Nessa outra análise podemos perceber que, eventualmente, ocorre uma variação de maior para menor, ou o contrário. Levando isso em consideração, faz um pouco mais de sentido. Outro motivo é deixar a análise o mais completa possível.
Gráfico 5
O quinto gráfico nos mostra o equilíbrio entre três tipos de escalas:
- Escala Natural: São as escalas que não têm acidentes na armadura e são apenas duas, Dó maior e Lá menor.
- Escalas Sustenizadas: São as escalas com sustenidos na armadura. Estão nesse grupo as escalas de Sol maior, Ré maior, Lá maior, Mi maior, Si maior, Fá# maior e suas respectivas relativas menores.
- Escalas bemolizadas: São as escalas com bemóis na armadura. Estão nesse grupo as escalas de Fá maior, Si bemol maior, Mi bemol maior, Lá bemol maior, Ré bemol maior, Sol bemol maior e suas respectivas relativas menores.
Sendo que existem 24 tonalidades ao todo (12 maiores e 12 menores), temos então 2 tonalidades com armadura natural, 12 tonalidades com armadura sustenizada e 12 tonalidades com armadura bemolizada. Ao todo, essa soma dá 26, mas isso se explica facilmente. A escala de Fá# maior possui 6 sustenidos na armadura, enquanto a de Sol bemol maior (que, enarmonicamente, é a mesma escala) possui 6 bemóis. Qualquer uma pode ser usada, e a escolha vai do contexto, das variações harmônicas que a peça exige. A questão é que das 12 escalas sustenizadas e 12 bemolizadas, 2 são enarmonicamente iguais. Temos, ao fim disso, 24 tonalidades.
Comentários sobre as sinfonias em Dó maior
As tonalidades naturais (C e Am) representam 8,33% das 24 tonalidades apresentadas. Dó maior representa 4,16% e Lá menor também. Como podemos ver, a porcentagem de sinfonias nas armaduras sem acidentes são mais do que o dobro (17,07%). Ainda é preciso considerar que todas estão em Dó maior. Isso seria mais de 4 vezes mais do que um equilíbrio perfeito que existe no Cravo bem Temperado, por exemplo.
Mas considerando que temos 8, das 24 tonalidades, nas sinfonias de Mozart, o equilíbrio entre a escala de Dó maior, e as outras escalas, fica maior. Partindo das 8 tonalidades totais, cada uma representa uma fatia de 12,5%, número mais próximo dos 17,07%, do que os 8,33%, e principalmente os 4,16%, anteriores.
Nisso tudo podemos perceber uma característica comum na música, a preferência por escalas com menos acidentes.
Gráfico 6
Neste gráfico de pizza, podemos ver claramente a preferência de Mozart pelas tonalidades maiores. Uma fatia muito pequena sobra para as sinfonias em tonalidade menor.
Gráfico 7
Gráfico 8
No gráfico de radar é fácil visualizar a característica de preferência por tonalidades sem acidentes, ou próximas dessa armadura. O gráfico abaixo mostra as sinfonias todas do lado da escala de Dó, com uma divisão exatamente no meio (três sustenidos e três bemóis).