Digitei como pensar agora no Google e deixei que ele completasse. Não tive grandes surpresas, os resultados foram (entre outros) como pensar bem, mais, menos, melhor, nas coisas do alto, positivo, etc. Para determinar um tema relevante sobre o qual escrever no site, pesquisar o que as pessoas andam pesquisando é, muitas vezes, necessário. Na lista de frases completadas pelo próprio Google, achei tudo normal, só achei que faltou ali como pensar profundamente, que é algo que eu pesquisaria. Mas entendo que já é difícil alguém estar interessado em pensar, quem dirá em pensar profundamente. Acabei escolhendo escrever sobre como pensar melhor, pois é a opção que abrange uma maior quantidade de coisas significativas.
Dentre os resultados que apareceram, um me chamou atenção: Como Pensar: 15 Passos (com imagens), artigo presente na wikiHow. Primeiramente achei uma pretensão arrogante querer “ensinar a pensar”. Todavia, penso que dicas de como aprimorar o pensamento, que podem ser de diversas maneiras colocadas, tal como em termos de organização, quantidade, refinamento, eficácia, utilidade, etc., são bem-vindas. Mas se propor a ensinar a pensar mais, ou a focar o pensamento, é algo diferente de pretender ensinar a pensar em 15 passos, que é somente uma balela.
Porém, se propor a ensinar como pensar, num passo-a-passo com 15 itens, além de ser superficial, ainda é doutrinação. Eu não leria um texto desses, a não ser para fazer um review crítico em algum site desconhecido. É notável que no item 3, o artigo em questão já estava tentando me dizer qual é a melhor forma de pensar. Mais adiante diz para ser crítico e buscar a verdade. Mas a coisa toda não passa, no fim, de uma manipulação sutil e bem construída para que aquela doutrina seja aceita como verdade. Isso não é pensar melhor, e o foco aqui é esse.
O que você verá neste artigo
Ideologia e manipulação
Nenhum professor, professora, livro ou método de pensamento te ensina a pensar melhor, te dizendo como tu deve pensar. Isso é apenas doutrinação ideológica, que pode ser religiosa, mas também política e, porque não, científica também.
O que é pensar melhor
Quando eu me refiro a pensar melhor, eu falo em termos de qualidade de pensamento mesmo, de liberdade de pensamento, de autonomia, de não precisar de alguém para te dizer o que e como tu deve pensar. Isso não significa que o sujeito com autonomia de pensamento vai entender tudo e vai ter argumento para tudo. Seria um engano acreditar nisso.
Eu poderia discutir com o papa sobre a bíblia, mas ele conhece a bíblia de trás para diante, e certamente já a leu em latim. Eu nem latim sei. Na prática, eu só teria a aprender, mas isso não significa que eu não tenha liberdade de pensamento, ou qualidade. Eu poderia discutir com Einstein sobre a teoria da relatividade, mas mais uma vez, não teria nada a acrescentar, apenas ouvir e aprender. Da mesma forma, isso não significa que eu não tenha autonomia de pensamento, que não seja capaz de formular meus próprios conceitos. Poderia também discutir com um idiota sobre qualquer assunto, mas jamais conseguiria aprender nem ensinar nada, isso porque é difícil ganhar uma discussão com alguém inteligente, mas é impossível ganhar uma discussão com um tolo.
Raciocínio Crítico
Qualidade de pensamento envolve capacidade de raciocínio crítico. Isso porque, se eu não possuir as habilidades necessárias para reconhecer uma falha de lógica em um discurso, automaticamente estarei aceitando uma mentira como verdade. Para reconhecer falácias e manipulações, é essencial ter essa capacidade de criticar ideias. Mas a capacidade de criticar uma ideia que eu leio, ou ouço, é diferente de agir segundo uma rebeldia sem causa que visa apenas discordar. Nesse sentido, a capacidade de pensamento crítico, para ser completa, deve incluir a crítica a mim mesmo.
Pensar diferente de você não significa pensar pior que você
As pessoas pensam de forma diferente e têm formas de pensar diferentes. Enquanto alguns são mais analíticos, outros são mais intuitivos. E enquanto alguns se identificam mais com ideias religiosas, outros se identificam mais com ideias políticas. Até aqui nada de novo, mas parece que existe um “esquecimento” constante de que nada disso significa pensar melhor ou pior.
Seja como for, há aqueles livros que a gente lê e tem a sensação que poderia ter escrito aquilo, ou que aquilo saiu de dentro da própria cabeça; tamanha é a identificação com o autor. É claro que aí temos que considerar um talento extraordinário para a escrita, não somente identificação. Há outras leituras que concordamos, mas que não há essa clareza direta e total. Defino como igualdade de pensamento e semelhança de pensamento, respectivamente. Outros livros, ainda, são chatos, intrincados, difíceis de entender, parece que não entram na cabeça. Não é necessariamente escrito por alguém que não tem talento para concatenar as ideias, ou para se expressar. Pode ser simplesmente um autor que possui uma forma de pensar diferente da sua, ou que pensa de forma diferente de você.