Se você toca algum instrumento, canta, ou conhece alguém que toque, você já deve ter ouvido falar em escala. Do mesmo modo, é bastante provável que você saiba o nome de todas as notas também. Para começar a entender o que é uma escala, basta compreender que a sequência Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si é uma escala. Nesse post vou falar sobre uma escala muito importante, a pentatônica. Isso porque, de todas as escalas musicais, provavelmente a pentatônica chinesa é a mais usada.
Existem muitos materiais de estudo disponíveis na internet que tratam desse assunto, sendo que vários deles são gratuitos. Tem muito material bom. Esse texto é só mais um entre tantos sobre escala musical. A minha abordagem é interessante para quem busca um entendimento da Música em si, independente do instrumento. Para quem busca um estudo de escala aplicado ao instrumento, eu vou fazer somente mais adiante. Enquanto isso você pode procurar alguém que fale especificamente sobre o instrumento que você toca. Geralmente é bom ter mais de uma fonte. Compare o que eu digo com o que outros dizem. Isso enriquecerá o seu vocabulário musical.
O que você verá neste artigo:
- Por que começar pela escala pentatônica?
- Alguns pontos sobre a origem da escala pentatônica.
- Motivos políticos.
- Motivos sociais.
- Como a escala foi construída.
- Por que a pentatônica é tão boa para improvisar?
- Quantas pentatônicas dá para usar em cada tom?
- Sem o trítono fica tudo mais fácil!
- A 2m na escala maior ocidental e na pentatônica.
- Graus ii, iii, IV, V e vii dim.
Por que começar pela escala pentatônica?
Considero importante começar por esta escala, porque ela é muito antiga e amplamente utilizada. A pentatônica chinesa, ou simplesmente pentatônica, é uma escala de cinco notas. Ela é bastante explorada na música popular dos últimos cem anos, no mínimo. Se você tem interesse em improvisar, conhecer a pentatônica é essencial.
Alguns pontos sobre a origem da escala pentatônica
A escala pentatônica surgiu quando os músicos na China antiga buscavam uma sonoridade não conflitante. Provavelmente a origem dessa escala está ligada a motivos políticos e sociais. Motivos políticos porque os imperadores viajavam pelo território chinês para saber como as pessoas estavam. E para saber sobre as pessoas e o funcionamento das coisas, os imperadores escutavam os músicos tocando. Baseados em como soava a música de cada lugar, eles mantinham ou modificavam as características dos povoados.
Motivos políticos.
A música era, então, um retrato de cada microssociedade. Através dela é que os governantes sabiam se as coisas estavam funcionando bem ou não. Isso fez com que os músicos evitassem notas dissonantes, pois se a música de algum lugar fosse “desarmoniosa”, isso significava que aquele território precisava ser modificado. Para manter a paz e os costumes de cada vilarejo, a música retratava algo pacífico e sem conflitos.
Mas isso é uma maneira ocidental de interpretar a cultura oriental antiga. Então é bem provável que não tenhamos uma compreensão muito clara de como as coisas realmente eram. Eu nunca fui ao oriente, só conheço essas informações de livros.
Motivos sociais.
Outra coisa que eu considero importante de se colocar aqui é que, se juntarmos o hieróglifo 音 (som), com 乐 (feliz), nós teremos 音乐 (música). Outras combinações também ajudam a entender a ideia de “música” para os chineses. 乐 (feliz) + 器 (dispositivo) = 乐器 (instrumento musical). Sei que é uma língua completamente diferente, que eu não sei falar, mas isso serve só para exemplificar. Ao que tudo indica, na linguagem escrita, a Música está sempre associada à alegria.
Como a escala foi construída.
Na busca por uma sonoridade que representasse tudo isso, os chineses partiram de uma nota. A partir da Tônica, eles procuraram a nota mais estável em relação a ela, ou a mais consonante. O intervalo mais consonante que existe é o da quinta justa. A quinta justa é o primeiro harmônico com uma nota diferente da Tônica. Para fins práticos, vou demonstrar como a pentatônica foi construída, a partir da nota Dó.
Aqui podemos ver que, a partir da nota Dó, em sentido horário, temos uma sucessão de quintas.
Até o Mi estava tudo em harmonia, mas quando surgiu o Si (5J de E), eles perceberam que o Si entrava em atrito com o Dó, e deixaram a escala somente até ali para que a música soasse pacífica. Mas essa é uma versão ocidental, não sei o quanto um músico chinês concordaria com o que eu estou escrevendo.
Por que a pentatônica é tão boa para improvisar?
No improviso, um dos maiores desafios é conseguir criar uma melodia em tempo real. Alguns até diriam que improviso se resume a isso. Nada melhor do que uma escala que se encaixa nos principais acordes de uma tonalidade, sem causar tensão. Dentre as principais escalas musicais, a pentatônica chinesa cumpre bem esse papel. Porém, é preciso considerar uma coisa importante: eu estou falando da pentatônica aplicada na música ocidental popular contemporânea. O contexto é bem diferente da mesma escala na sociedade oriental de milênios atrás.
Quantas pentatônicas dá para usar em cada tom?
Usando a pentatônica de Dó maior, que é a do exemplo acima. Repare que as notas C, D, E, G, A fazem parte das escalas de Dó, Sol e Fá maior e suas respectivas relativas menores. A partir disso é possível concluir que a pentatônica maior do I, IV e V soam bem dentro de qualquer escala maior. Isso equivale a dizer que, dentro da escala de Dó maior, podemos usar três pentatônicas tranquilamente: C, F e G.
Sem o trítono fica tudo mais fácil!
Outro detalhe é que a pentatônica não tem trítono. Mesmo sobre o vii dim, a escala pentatônica abranda a dissonância, soando mais como V7. Nos acordes de Tônica e relativa, a pentatônica pode ser usada sem receio. Já na escala diatônica, o F e o B formam um intervalo de 2m com o C e o E, que fazem parte tanto do I, quanto do vi.
Note que, assim como o trítono, a 2m também é dissonante. Se compararmos a escala maior primitiva com a pentatônica maior, veremos que a pentatônica é muito mais consonante. Nos acordes de Tônica e relativa, duas notas da escala maior primitiva têm um intervalo de 2m em relação à duas das três notas desses acordes. Justamente essas duas notas (Fá e Si) são as que não estão presentes na pentatônica chinesa. Logo, a escala de 7 notas do ocidente causa tensão até mesmo no acorde da Tônica. Enquanto isso, a pentatônica chinesa pode ser tocada livremente, sem a preocupação de que alguma nota “não vai fechar”.
A 2m na escala maior ocidental e na pentatônica.
Enquanto na escala diatônica ocidental de sete notas, a 2m aparece duas vezes em relação à Tônica e à Relativa, no oriente as coisas são menos tensas. O intervalo de 2m também aparece, mas é suavizado. Mesmo que isso tenha a ver com a aplicação de uma escala oriental antiga na música ocidental atual. Confira os exemplos a seguir.
Graus ii, iii, IV, V e vii dim
- ii –> Dm = D, F, A. No ii, o E da escala forma uma 2m com o F do acorde.
- iii –> Em = E, G, B. No iii, o C da escala forma uma 2m com o B do acorde.
- IV –> F = F, A, C. No IV, o E da escala forma uma 2m com o F do acorde.
- V –> G = G, B, D. No V, o C da escala forma uma 2m com o B do acorde.
- vii dim –> B dim = B, D, F = No vii dim, tanto o B, quanto o F presentes no acorde formam uma 2m com o C e o E, respectivamente.
Como você pode notar, somente no vii dim existem duas 2m, diferente do que acontece na escala maior primitiva. Então, apesar de aparecer a 2m também, ela aparece uma vez em quatro acordes e duas vezes em um acorde.