introdução à percussão

Introdução à Percussão17 minutos de leitura

Você gosta dum batuque? Uma batera bem pegada? Toca, ou tem interesse em aprender a tocar? Acompanhe um pouco sobre os instrumentos e suas diferenças nesta introdução à percussão.

Etimologia

A palavra PERCUSSÃO é de origem latina, formada pelo prefixo PER e pelo sufixo QUATERE. Da junção destas duas palavras temos PERCUTERE, de onde deriva percutir, que significa “golpear repetidamente”, e “bater ou tocar com força em”. Em resumo, cada termo significa:

  • PER: através, através de, acima de, muito, por completo.
  • QUATERE: sacudir.

Tambores (membranofones)

Estes instrumentos possuem uma pele ou membrana que é percutida, e dessa forma produz o som. Podem ter um corpo de ressonância ou não e geralmente são percutidos com baquetas ou com as mãos, mas também existem os tambores percutidos com os dedos. Por fim, os tambores são também chamados de membranofones.

Corpo de ressonância

Para entender o que é um corpo de ressonância num tambor e qual é a sua função, o melhor é um exemplo prático. Por mais que pareça difícil, é bem fácil. Acompanhe as duas figuras abaixo:

O pandeiro não possui corpo de ressonância. Isso significa que o cilindro que segura a pele é muito curto e o som não chega a ressonar ali dentro.
Já o rebolo tem um cilindro suficientemente grande para acontecer a ressonância.

Ressonância

  • É um fenômeno físico que está presente, entre outras coisas, nos sons. A ressonância aqui tratada refere-se, portanto, à ressonância acústica. Nos instrumentos musicais, tanto nos de percussão quanto nos instrumentos de outros tipos, o que ocorre nesses corpos de ressonância pode ser dividido em três partes. Só para ilustrar, vou usar o rebolo e o violão como exemplo.
  • Em primeiro lugar acontece uma reflexão do som original.
  • Em segundo lugar, esse som refletido no corpo de ressonância volta para a pele (no caso do rebolo), ou para a corda (no caso do violão).
  • Em terceiro lugar, esse som refletido, ao entrar em contato com a pele ou corda, faz a pele (ou corda) vibrar novamente, e assim sucessivamente, até o som “morrer”. Com efeito, essa terceira parte é a ressonância, propriamente dita.
  • Por conseguinte, o som produzido pelo instrumento tem maior volume e possui maior duração. Ou seja, o resultado final é a amplificação (reverberação) do som original.

Classificação dos instrumentos

Os membranofones se dividem em 4 subgrupos de acordo com a classificação Hornbostel-Sachs: Membranofones percutidos, Membranofones beliscados, Membranofones friccionados e Membranas cantantes. Aqui serão tratados os membranofones percutidos, que por sua vez tem uma subcategoria chamada bimembranofone, que é quando o instrumento possui duas peles, uma em cada extremidade do corpo de ressonância.

Os tambores podem ou não ter um corpo de ressonância, assim como podem ter uma (1) pele (ou membrana), ou duas (2).

A caixa clara e o bumbo de concerto são bimembranofones, pois possuem duas peles. Eles também possuem um corpo de ressonância.

Já o pandeiro, que possui apenas uma pele, é chamado simplesmente de membranofone, e além disso não possui um corpo de ressonância.

Aqui há uma imprecisão no termo, pois membranofone serve tanto para se referir aos instrumentos de membrana que possuem apenas uma pele, quanto aos que possuem duas peles. Há a possibilidade de se utilizar o termo timbale ou timbalão para especificar um membranofone de apenas uma pele, conforme apontam os dicionários Mini Luft, Larousse Cultural e o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Encyclopedia Britannica do Brasil. Na Wikipedia vemos a mesma definição de tambores com somente uma pele: Timbalão. Porém timbale, timbal, ou timbales é também, especificamente, o nome de um tambor. E o tom-tom também pode ser chamado de timbalão.

Exemplos de Tambores

  • Com baquetas: Caixa clara, Bumbo sinfônico, Tom tons, Tímpanos, Bumbo Leguero, Surdo, Repique, Tamborin e Tarol.
  • Com as mãos: Congas, bongôs, Timbal, Pandeiro e Djembe.

Caixa clara

A caixa clara é um tambor com corpo de ressonância que possui uma pele que é percutida e uma pele de resposta. Em virtude de fazer parte dos membranofones que possuem duas peles, pode também ser classificada como bi-membranofone. Assim como ela possui, também, uma esteira de metal que fica esticada e em contato com a pele de resposta, como é possível ver na segunda imagem.

Caixa clara
Esteira na parte de baixo da caixa (em contato com a pele de resposta)

Na dissertação da UFMG que está em pdf abaixo você pode aprender mais sobre a caixa clara, assim como conferir detalhes.

Dissertação de Tarcísio Braga (UFMG) – A caixa clara na bateria: Estudo de caso de performances dos bateristas Zé Eduardo Nazário e Marcio Bahia


Bumbo sinfônico

O bumbo sinfônico faz parte dos tambores graves, como o bumbo leguero ou o bumbo da bateria, que são menores, mas têm as mesmas características. Bumbo (PT-BR) ou bombo (PT-PT) a grosso modo é o nome dado a um tambor grande, com som grave e de duas peles, geralmente tocado com uma baqueta com feltro na ponta. Assim como a caixa-clara, ele tem duas membranas (bi-membranofone) e é originário das bandas militares. Na música clássica, um dos primeiros a introduzir o instrumento na orquestra foi Mozart.

Bumbo Sinfônico da marca Temppus, modelo BS2005
Bumbo sinfônico da marca ADAMS modelo Tilting Stand

Tom-tom

Como descrito acima, o tom-tom também pode ser chamado de timbalão. E assim como a caixa clara e o bumbo, o tom-tom também faz parte da bateria. Uma bateria simples geralmente é formada pelos pratos, uma caixa, dois tons, um surdo e um bumbo. Dessa forma, a ordem dos tambores na bateria, partindo do mais agudo e indo ao mais grave é essa descrita.

Quando usados em orquestra, os tom-tons também são chamados de timbalões de concerto. Se você deseja estudar, ou simplesmente conhecer uma peça para tom-tom, é só clicar neste link e você será redirecionado ao site do percussionista e compositor brasileiro Ney Rosauro. A música é Variações para quatro tom-tons, opus 5-1. Ela é uma composição pedagógica, indicada a percussionistas/bateristas iniciantes e/ou intermediários.


Surdo

Muito utilizado no samba, este tambor grave descende das bandas militares e é um dos tambores que compõe a bateria. No samba podem existir até três tipos de surdos diferentes, variando de acordo com o tamanho e o papel que desempenham na música. O primeiro surdo, ou surdo de marcação, é o maior e mais grave, e faz a marcação principal do samba, no tempo 2 do compasso binário. O segundo surdo, ou surdo de resposta, é de tamanho intermediário e tocado no tempo 1. O terceiro surdo, ou cortador, é o menor e menos grave, e toca de sincopadamente nos contratempos, preenchendo o ritmo.

Surdo de samba

Na bateria ele também é chamado de floor tom (floor = chão, piso, assoalho) em inglês, e timbalão de chão em português europeu. No português brasileiro é simplesmente surdo e, nas baterias maiores pode ter mais de um.

Surdo de bateria Yamaha stage custom 14 polegadas

Bateria

A bateria é um conjunto de tambores, pratos e instrumentos de percussão em geral, que torna possível uma só pessoa executar o que várias executavam. De certa forma, a bateria é um set de percussão, mas muito específico, com uma linguagem própria e que se inclui em praticamente todos os estilos de música atual. Enquanto que, numa escola de samba por exemplo, vários percussionistas tocam vários instrumentos, numa bateria, um instrumentista apenas pode tocar vários instrumentos que se assemelham aos instrumentos de uma escola de samba, tais como bumbo, surdo, caixa, tarol e pratos (ou assemelhados, como chocalhos). O resultado final é que, apesar de perder em massa sonora, a bateria é uma forma de sintetizar um grupo de percussão. De forma análoga, podemos pensar que um teclado torna possível com que o som de uma orquestra de cordas possa ser tocado por uma única pessoa.


Bateristas Notáveis

Neil Peart (Rush)
John Bonham (Led Zeppelin)
Bill Bruford (capa do seu livro com link na imagem)
Billy Cobham (Mahavishnu Orchestra)
Igor Cavalera (Sepultura)

Tímpanos

Diferentemente dos tambores apresentados até aqui, que são membranofones de altura indefinida, isto é, não têm afinação; os tímpanos são membranofones de altura definida (têm afinação). O tímpano é um tambor grave e arredondado, que vem em diferentes tamanhos. A sua afinação pode ser modificada através de um pedal (no meio da música, por exemplo). Para que ele fique bem afinado, é preciso que a tensão em todos os parafusos, que sustentam a membrana, seja a mesma. Essa regra também vale para os outros membranofones, contudo, o tímpano produz uma nota definida, onde os harmônicos se concentram em torno de uma nota. Na caixa, tom-tom, surdo, ou bumbo; há, no máximo, uma aproximação da nota, porém dificilmente irá atingir a precisão da afinação de um tímpano.

Tímpano atual, com pedal para regular a afinação.
Tímpano antigo, sem pedal.

Barrafones (Teclados)

Barrafones são instrumentos de percussão que possuem teclas de madeira, ou metal, que são percutidas com baquetas especiais, chamadas mallets. Nos barrafones maiores (mais graves) se usa tanto os mallets macios, quanto os duros. Entretanto, nos barrafones menores (mais agudos) costuma-se usar apenas mallets duros.

Neste post será apresentado quatro deles:

  1. De madeira
    • Marimba
    • Xilofone
  2. De metal
    • Vibrafone
    • Glockenspiel

Características gerais (sonoridade e baquetas)

São instrumentos que podem ser tocados com 2, 4, ou 6 baquetas (normalmente 2 ou 4). A diferença de sonoridade é clara entre as teclas de madeira e as de metal, e além dessa diferença, um detalhe interessante é que os mallets (ou baquetas) utilizados na marimba (o mais grave desses instrumentos) são revestidos (com lã ou feltro, por exemplo). Isso faz com que os graves soem melhor, faz com que o som fique mais aveludado. Já o Glockenspiel, que é bem agudo, é tocado apenas com baquetas (ou mallets) com pontas duras, pois só assim para fazer o instrumento soar. É uma questão física.

No geral as regiões médias podem ser tocadas com qualquer tipo de mallet (ponta dura ou macia). Porém, quanto mais grave, maior a necessidade de se usar baquetas macias (para que soe bem). E quanto mais agudo, maior a necessidade de se usar mallets duros. Numa região média, a ponta macia dá um som mais aveludado e a ponta dura dá um som mais staccato. Porém uma ponta macia no agudo deixa o som apagado, enquanto que uma ponta dura no grave deixa o som sem peso.

Tirando o Glock, todos eles apresentam tubos para a reverberação/amplificação do som.

Algumas considerações sobre os barrafones de metal

Nos barrafones de metal (Vibrafone e Glockenspiel) também existem modelos com pedal de sustain (o mesmo princípio do pedal de piano). No Glock nem tanto, pois é um instrumento que naturalmente tem pouca duração. Mas no Vibrafone, por ele soar por bastante tempo, sempre há um pedal. O princípio é o mesmo do piano: quando se aperta o pedal, as teclas ficam livres para soarem indefinidamente. Embora isso possa tornar o som “embolado”. No seu normal, sem o pedal apertado, as teclas de metal do Vibes são abafadas por um feltro, de tal forma que o som fica com uma curta duração (staccato).

O Vibrafone pode possuir também o efeito tremolo, que é quando ele é elétrico e possui um motor que faz girar discos no tubo de reverberação. Desse modo, o volume das notas aumenta e diminui, e a velocidade pode ser modificada.

Teclas de madeira

Marimba


Xilofone


Teclas de metal

Vibrafone


Glockenspiel


Post Scriptum

  • Agradecimento especial ao professor Heron Oliveira pelo material de apoio, que me auxiliou do começo ao fim.
  • Texto dedicado, com profundo respeito e admiração, a Neil Peart. Descanse em paz.

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