Androides e Ciborgues

Androides e Ciborgues4 minutos de leitura

Android é uma palavra que hoje se usa para designar um sistema operacional. Mas nos filmes sci-fi, “androide” é sinônimo de um robô humanoide, assim como “ciborgue”. Porém, ciborgue é mais para definir um híbrido entre humano e robô, enquanto androide, um humano sintético, ou robô humanoide. Embora os dois termos representem coisas muito semelhantes nos filmes, a etimologia deles difere já na origem. Embarque nas palavras deste texto através das ideias e descubra a diferença entre androides e ciborgues.

A origem dos dois termos

Cyborg é uma palavra de origem inglesa, cunhada em 1960, que une “cybernetic” e “organism”; enquanto androide é de origem grega, e é a junção de “andro” com “oide”. Por mais que haja alusões a organismos cibernéticos antes de 1960, a palavra cyborg foi cunhada por Manfred E. Clynes e Nathan S. Kline para se referirem a modificações no corpo humano visando uma adaptação em ambientes extraterrestres. Dessa ideia aparentemente absurda, extrai-se uma lógica simples, como usar modificações eletrônicas para mudar a temperatura do corpo humano e assim proporcionar uma espécie de hibernação em longas viagens. Outra mudança, talvez mais lógica até, de se buscar com modificações no corpo através da tecnologia, é tornar o ser humano capaz de respirar outros ares. Em uma atmosfera totalmente diferente da que existe aqui na Terra, poder respirar com a ajuda de implantes eletrônicos seria muito útil.

Já androide, por outro lado, é basicamente um robô com forma humana, ou mais precisamente, com forma de homem. Andro, de origem grega é um prefixo também encontrado em andropausa (queda na produção dos hormônios androgênicos, como a testosterona, quando o homem envelhece), androcentrismo (termo cunhado pelo sociólogo Lester F. Ward, que diz respeito às perspectivas que levam em consideração o homem como foco de análise do todo) e androfobia (distúrbio psicológico que gera um medo irracional, constante e intenso em relação aos homens). O sufixo “oide” significa “semelhante à”, ou “com forma de”, e também é encontrado em humanoide e asteroide, respectivamente com a aparência humana e de astro.

Dentro do contexto de cyborg, na origem do termo, tanto modificar o corpo humano quanto enviar pessoas para outros planetas não é invenção do Elon Musk. Há muito a humanidade já cogita essas coisas, mas agora temos o desenvolvimento, na prática. O Neuralink é o correspondente ao ciborgue e a utilização de robôs humanoides na SpaceX é o correspondente aos androides.

Se de um lado temos o Neuralink para transformar humanos em ciborgues e do outro temos androides viajando a outros planetas, eu me pergunto: e os humanos aqui na Terra? Mesmo um fã de sci-fi e um entusiasta da tecnologia curioso pelo futuro que nem eu se pergunta esse tipo de coisa. Estamos começando a cuidar do futuro da humanidade em termos de viagens interplanetárias. Também já começamos a trabalhar em prol de utilizar chips no cérebro e outros recursos que nos permitem aumentar nossa capacidade. Os benefícios destes avanços são inegáveis. Mas e quanto à humanidade em si? E quanto às pessoas aqui na Terra mesmo, sofrendo com desigualdade e injustiça?

Viajar pra Marte é muito bonito e todo mundo quer. Porém, todo mundo deveria querer também tornar a vida nossa de cada dia, aqui e agora, um pouquinho melhor. Assim como é imbecil tentar destruir a Monalisa como protesto aos males do mundo, querer destruir a possibilidade de viagens interplanetárias também o é. Mais mesquinho ainda é querer atacar o desenvolvimento de tecnologias que possam fazer os cegos verem, argumentando tolices anti-tecnológicas.

Nem tanto ao Marte, nem tanto à Terra

Por mais que essas preocupações sejam válidas, existem outras coisas mais básicas que são negligenciadas. A minha lógica é: se é tolice atacar o desenvolvimento tecnológico, tolice maior ainda é negligenciar fatores mais fundamentais ainda. Penso que antes de querermos construir uma nave e enchê-la com humanos híbridos para colonizar outros planetas, precisamos cuidar dos problemas graves e basais que temos aqui.

É bem óbvio para mim o porquê disso: carregar estes problemas não resolvidos para longe da Terra é insensatez. Ao chegarmos em Marte, por exemplo, sem saber lidar com hierarquia e nem com igualdade, nossa chance de prosperar é muito baixa. E não sabemos lidar com muitas outras coisas. O ser humano é falho e fraco. Penso que uma simples crise de ciúme pode destruir um projeto de décadas. Inveja, abuso de poder, falsidade, hipocrisia, etc. O ser humano, tal como é, propicia guerras e disputas mortais e inúteis facilmente. Como lidar com isso no meio do nada, onde todos dependem de todos para viver?

Em 5.000 anos de civilização, 10.000 guerras

A humanidade simplesmente não tem condições psicológicas e emocionais de fazer uma empreitada dessas. Nos julgamos muito evoluídos e civilizados, mas continuamos cometendo os mesmos erros horrendos de milênios atrás. Devemos primeiramente aprender a conviver em paz e a ter respeito uns pelos outros antes de sair por aí, passeando pelo espaço sideral e fazendo um monte de merda.

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