O que é Axiologia?10 minutos de leitura

Em poucas palavras, axiologia é um campo de estudo da Filosofia que se propõe a estudar os valores e/ou juízos de valores. Ela investiga como atribuímos valor às coisas, distinguimos entre o certo e o errado, o bonito e o feio. Acompanhe alguns exemplos nesse post e entenda um pouco melhor o que é axiologia.

Podemos perceber na Ética, por exemplo, que para definir uma coisa como certa e outra como errada, fazemos um juízo de valores. Ou para definir um comportamento como aceitável e outro como não aceitável, há uma comparação e uma valoração a cada comportamento.

Mas não somente na Ética. Na estética também há comparações e juízos de valores. Ao determinar se algo é belo ou feio, estamos engajados em um processo axiológico. Nesse contexto, a axiologia assume um papel central na concepção dessas ideias e na compreensão dos valores atribuídos a diferentes obras. Se uma pintura é bonita, ela o é em comparação a outra pintura, no máximo em comparação a outra coisa com o mínimo de similaridade, como uma foto.

A axiologia, dentro dessas áreas citadas, é como uma ferramenta central na concepção de ideias como bom/ruim, bonito/feio. Para entender melhor a ética, compreender o valor que se dá a cada costume é essencial. Como se dá esse processo de julgar, definir, separar e catalogar cada detalhe em uma área de estudo é o que há de mais teórico e intelectualmente trabalhoso, muitas vezes.

Proponho explorarmos mais detalhadamente o conceito de axiologia, examinando seus elementos fundamentais, como a polaridade dos valores, e a importância da comparação para a avaliação de características em uma área de estudo.

“Para entender melhor a ética, compreender o valor que se dá a cada costume, comportamento ou atitude é essencial.”

Valor positivo e valor negativo

Poderia estar falando de matemática, mas não é bem isso. Também não estou falando de positivo e negativo como sinônimos de bem e mal. Um valor positivo é aquele que se afirma uma determinada característica. Por exemplo, “esse violão é bonito”. Aqui o atributo “beleza” é relacionado ao objeto violão. Também é possível dizer que “esse violão é feio”. Nos dois casos estamos afirmando coisas opostas, ou atribuindo características opostas a um objeto.

Nisso se vê a característica de polaridade, ou bipolaridade, de um valor, pois tudo que se pode valorar tem um correspondente contrário. Seguindo o exemplo acima, tanto bonito quanto feio são valores positivos no sentido de que são afirmações, e não negações. Estritamente neste sentido, os valores correspondentes seriam “esse violão não é bonito” e “esse violão não é feio”.

Porém, esse raciocínio acaba se tornando mera questão de linguagem e dificultando a compreensão da ideia em si.

Mas e o neutro?

Continuando a busca por este entendimento, após afirmar com “é” e negar com “não é”, vejamos o seguinte: você já ouviu alguém falar que uma pintura “não é feia”? Há outros exemplos semelhantes, provavelmente você já ouviu algum. A questão aqui é a seguinte: bonito não é simplesmente ausência de feiura, e nem feiura é simplesmente ausência de beleza.

Por mais que um quadro seja feio, ou “meia boca”, não é por isso que quadros bonitos deixam de existir. Por mais que passar o sinal vermelho seja um comportamento errado, ou uma “exceção momentaneamente justificável”, porque a pessoa está atrasada e não tem trânsito naquele instante; não é por isso que comportamentos corretos deixam de existir.

Como assim? O que tu tá falando?

Calma, eu já explico. Em comparação ao bonito, existe o oposto feio. Em comparação certo, existe o oposto errado. Mas a própria existência em si não tem oposto, a realidade não tem oposto. O oposto da existência e da realidade é o nada, mas o nada é o que não existe. Ora, aquilo que não existe não pode ser o contrário de algo. Ou como diz na canção dos Mutantes “O contrário de nada é nada”.

“A existência não tem oposto.”

Voltando ao que eu falava antes, a simples ausência de algo que existe e é real não pode ser julgada e interpretada como inexistente ou irreal. Todas as características que se podem atribuir, a algo que existe, são reais e têm um oposto. Todas as características têm polaridade. O nada não é bonito, nem feio, nem grande, nem pequeno, o nada não é nada. O nada não existe. Não pode ser oposto de nada que existe. Também não tem polaridade, e nem é polo de bipolaridade alguma.

Primeira regra da axiologia

A primeira coisa óbvia no estudo da axiologia é que, sem comparação, não há valor. É preciso comparar uma característica com a outra para poder qualificar essa determinada característica, em relação a outra. E ao se comparar uma característica com outra, logo se estabelece um polo oposto a ela.

Recapitulando

A existência é um valor positivo sem um valor negativo correspondente. A realidade é assim também. Apenas na linguagem a existência e a realidade têm um correspondente negativo.

Me lembro quando fui procurar a cifra de Like a Stone, do Audioslave, na internet. A música é em Sol menor, tonalidade relativa de Si bemol maior, as duas com dois bemóis na armadura. E lá estava em letras garrafais a tonalidade: Lá #. Falei para alguém que aquilo não existe. Mas isso é só uma corruptela. Está errado segundo a teoria formal. A rigor está errado. Porém, existe. Existe e estava lá, um monte de gente viu. Talvez esteja lá assim até hoje.

Na linguagem, especificamente, falar que algo “não existe”, ou “não é real”, pode fazer sentido. Todavia, quando se fala em fatos, o que não existe é nada, e o “nada” não pode ser conceituado. Algo que não é real não é bom nem ruim, porque não é real.

O ser é e não pode não ser
e o não-ser não é e não pode ser de modo algum.

Parmênides
Parmênides de Eléia. O que é axiologia

E quem define o que é real e o que não é? Quem definirá o que existe e o que não existe? A quem é dado esse papel e essa responsabilidade? Certamente ninguém tem esse poder e essa capacidade. Entretanto, no mundo corrupto em que vivemos, a mentira e a podridão sempre dão um jeito de entrar pelas frestas e sair pelos poros.

Como comparar uma coisa com a outra

Se para obtermos um valor é preciso fazer uma comparação, pois não existe valor sem comparação, por onde começar?

Fazer uma comparação adequada exige um juízo de valores em áreas equiparáveis

Quando conceituamos algo, esse algo faz parte de uma ou outra esfera da vida. Se dizemos que uma obra de arte é bonita, isso se inclui nos nossos sentidos, na nossa percepção. Se dizemos que tal atitude é honrada, isso se inclui na esfera moral. A primeira coisa importante para se fazer uma comparação adequada, e assim se fazer um juízo de valores correto, é fazer uma comparação em áreas equiparáveis.

Dizer que um saboroso suco de laranja é bom é uma coisa. Dizer que um livro é bom é outra. Não existe relação que torne um alimento comparável a um poema. São duas categorias distintas. Mesmo assim se usa a mesma palavra (bom) para demonstrar aprovação.

Após ter pensado na condição de fazer uma comparação de duas ou mais coisas em uma mesma categoria, podemos ainda utilizar subcategorias. Por exemplo, o que é melhor, maçã ou pastel? Maçã pode ser melhor para saúde, mas pastel ser mais saboroso. A lógica é a mesma. O que importa é fazer uma comparação adequada e eficaz.

Estabelecer um valor padrão, o qual é o “deve ser”, independente do que seja de fato

Se lembra quando falei em valor negativo e valor positivo? Além da discussão puramente teórica da linguagem, onde a afirmação é um valor positivo e a negação é um valor negativo, existe outro tipo de divisão de valores em polos opostos. O valor positivo, nesse caso, não é somente o que a linguagem afirma, mas aquilo que é a afirmação do que é desejável.

Não há como negar que um ser humano mentalmente são prefere o que é belo ao que é feio. Então, tirando as pessoas desprovidas de sanidade mental, que preferem a feiura, a maldade e a injustiça, ao invés da beleza, a bondade e a justiça; é possível concluir que o valor positivo é a beleza, e não a feiura. Da mesma forma, a bondade e a justiça são valores positivos, enquanto a maldade e a injustiça são valores negativos. O valor positivo, nesse caso, é o ideal, o “deve ser”. Por outro lado, o valor negativo é a negação do que “deve ser”, ou “o que não deve ser”. Ainda podemos colocar isso em termos de desejável e indesejável.

Reflexões Finais sobre a Axiologia

Em suma, a axiologia desempenha um papel fundamental na nossa percepção e avaliação dos valores. Ao investigar como atribuímos valor às coisas e distinguimos entre o certo e o errado, o bonito e o feio, acabamos por refletir sobre nossas convicções e compreendemos melhor nossas escolhas. Através da comparação e da análise criteriosa, a axiologia nos auxilia a buscar um olhar mais refinado e consciente sobre o mundo ao nosso redor, proporcionando uma compreensão mais profunda dos valores que orientam nossas vidas.

O texto nos mostra a importância de realizar comparações em áreas equiparáveis para realizar juízos de valores adequados. Por fim, refletimos ainda sobre o valor padrão, o “deve ser”, que representa o ideal desejável e nos orienta na busca pela beleza, bondade e justiça. O valor do ideal a ser perseguido é como um gabarito para continuarmos evoluindo.

Espero que este post seja proveitoso. Até a próxima!

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