Dilemas morais fazem parte da Filosofia há bastante tempo, e estão presentes na forma de questionamentos sobre a atitude justa e a injusta desde os diálogos de Platão. Neles, Sócrates frequentemente tenta demonstrar esse contraponto entre o certo e o errado, que permeia o estudo da ética. Porém, com o passar do tempo, o comportamento moral foi se desvincilhando da Filosofia e passou a se tratar a ética como um objeto de estudo independente, específico, objetivo e de caráter científico.
O que você verá neste artigo
A crítica do objeto de estudo subjetivo
Quando se fala em comportamento moral, uma das primeiras coisas que encontramos a respeito é que a moral muda conforme o lugar e o tempo. Na prática, isso significa que o que era certo na Grécia na época de Aristóteles, não necessariamente é certo atualmente no Japão, por exemplo. Ela não é uma regra imutável. Então existe essa crítica de que ela é inconsistente, ou instável, e por isso não é científica.
Porém isso se aplica apenas a um tipo determinado de ética, a normativa, que tem a função fundamental de formular uma série de normas e prescrições morais. Mas a teoria ética na sua totalidade pretende explicar a natureza, fundamentos e condições da moral, relacionando-a com as necessidades sociais humanas.
A mesma crítica pode ser feita a qualquer coisa subjetiva, como as emoções, a música, ou as crenças. Pode-se dizer que estas, assim como a ética, não são ciências por falta de objetividade. Todavia, a emoção humana estudada objetivamente e por métodos científicos é um estudo científico. Esse estudo científico e pragmático de algo subjetivo acaba se tornando uma área independente de estudo. A música, por exemplo, não pode excluir uma abordagem científica.
Ética como um simples capítulo da Filosofia
Durante um vasto período da história, a filosofia se apresentava como um saber total que se ocupava praticamente de tudo. A partir disso argumenta-se que questões éticas sempre fizeram parte do pensamento filosófico, o que dificulta a transformação da ética num objeto de estudo independente. Se a crítica a ela como algo subjetivo demais para ser um estudo científico e autônomo dificulta a sua delimitação, o fato de ela estar presente nos questionamentos filosóficos desde sempre a coloca entre a cruz e a espada, e a ética fica nessa penumbra em que não é nem uma coisa nem outra.
A lógica, outra área importante da Filosofia, também não pode mais ser considerada apenas como parte da Filosofia. Hoje temos a lógica de programação, que é uma área de estudo diferente da lógica filosófica ou matemática, com suas próprias regras.
Se a moral for interpretada como sendo apenas uma série de comportamentos impostos pelos costumes, ainda assim ela pode ser estudada objetivamente como uma área separada da Filosofia, e esta é a característica principal que torna a teoria ética um objeto de estudo independente.
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